




Sempre tive vontade de mostrar a história da Danka para as
pessoas.
Sei que, além de mim, há muita gente que gosta de animais e faz de tudo para que eles tenham um pouco de dignidade, conforto e o mínimo necessário para a sobrevivência...
(Na sequência, vamos colocar as fotos da turminha toda, porque agora a família cresceu!)
Danka foi largada à própria sorte perto da empresa onde eu trabalhava, em Curitiba, em meados de abril de 2008.
Durante uns três dias trabalhei angustiada vendo aquele animal sendo devorado por bicheiras, sarnas, vermes e tudo o que se possa imaginar...
Achava mesmo que um dia chegaria e ela estaria morta na porta daquele centro comercial.
Através do vidro, ficava observando a tristeza e as dores daquele bicho.
Tinha vontade de ajudar e ficar com ela, mas, nas condições em que ela estava a minha situação financeira não permitia, uma vez que ela precisaria de uma consulta e muitos remédios.
E os dias foram passando...
Toda vez que passava por ela, evitava olhar.
Um dia, da minha mesa fiquei observando o "bichinho" e aí aconteceu o que eu mais temia: Trocamos olhares!
Me lembro como se fosse agora!
Ela estava de costas para mim e foi virando o pescoço devagarzinho... lascou-se!
Naquele mesmo instante peguei as chaves do carro e saí em desespero para comprar-lhe algo para comer.
Como estava muito nervosa, não conseguia raciocinar direito e nada me ocorria, só queria trazer-lhe algo bem saboroso para devorar!
Parei num mercado próximo da empresa e (em vez de trazer ração) comprei um pastel assado ENORME!... (só faltou pegar uma lata de refrigerante com canudinho!)
Cheguei perto do animal debilitado e ofereci o "banquete".
Ela não andava mais de fraqueza, mas, conseguiu comer.
Saí dali aliviada e fui continuar minha jornada.
Notei que ela tinha desaparecido.
Não liguei.
Achei que a carrocinha a teria levado, a pedido de alguém, pois, seu cheiro era insuportável!
Também pensei: _ Foi melhor assim... eu não tinha condições de tratá-la.
Ao lado da empresa tinha um Pet Shop. Fui perguntar se eles sabiam de alguma coisa e fui surpreendida com a resposta: Eles a mandaram para um veterinário!
Naquele momento, sem pensar nas consequências, disse-lhes imediatamente que, assim que ela retornasse, eu ficaria com ela!
Eu já tinha um cachorro!!... O que faria com ele?? Minha casa não comportava dois!!
Fui para casa pensativa.
Tinha que arrumar um novo lar para o Fluck e preparar psicologicamente meu marido para a novidade!
O que me deixava com medo era que a Danka era uma mistura de Pit Bull com alguma outra raça grande, resumindo, ela era IMENSA!
Agora já estava dito! Não dava mais para recolher.
Passaram-se os dias.
Já tinha me esquecido da promessa quando chegou o dono do pet shop dizendo que a "cadela" tinha retornado!
Tive um gelo na barriga! E agora??
Fui para casa angustiada mais uma vez.
Deus escreve mesmo certo por linhas tortas e ai de quem duvidar!
Naquele mesma noite uma moça ficou com o meu cachorro e no dia seguinte fomos para a empresa pegá-la!
Nossa vida mudou desde então.
Eu tinha consciência que gostava de animais, mas, não sabia que me apaixonaria por ela!
Apesar dela ter recebido tratamento, estava muito fétida, viemos enjoando dentro do carro.
Optei por esperar alguns dias, até que ela se adaptasse, para prosseguir com a higiene.
Tenho certeza de que o animal aguardava por aquele momento!
Ela ficou quietinha!!
Durante o banho, ia falando com ela.
Ia dizendo o que iria fazer a às vezes pedia a sua ajuda (para levantar a pata por exemplo) e ela me atendia!! Mesmo a pata que ainda estava em recuperação(devido à bicheira), ela me confiava!
A cada dia que passava a sua inteligência me supreendia mais! Ela obedecia à ordens e mostrava que trouxe bastante educação consigo.
Não era raro olharmos para a porta de casa e vermos aquele par de olhos curiosos, loucos para desbravar aquele mundo novo, mas, nunca se atreveu a entrar sozinha, sem autorização.
Não precisava falar nada!
Era só olhar que ela entendia.
Sempre que estava disposta, depois do trabalho, iamos caminhar.
No começo ela andava de cabeça baixa, tinha pouca expressão.
Com o passar dos dias, foi ficando confiante e já "discutia" com os companheiros presos dentro dos quintais, pelas ruas onde passávamos.
Além do que, agora quem ME levava para o passeio era ela!
Sim.
A esta altura EU era arrastada pela rua! Porque morria de pena de usar o enforcador do lado correto, aí ela se esbaldava! Ia onde queria e me arrastava!
Interessante como a vida da gente vira de cabeça para baixo em função destes bichinhos!
Meu marido e minha sogra nunca tiveram animais (sempre moraram em apartamento) e até que eles se acostumassem com a nova moradora, não foi fácil!
Era a "cara" de Pit Bull, que os amedrontava.
Era um cocô ou outro pelo quintal, muito embora, eu sempre fizesse de tudo para manter a limpeza.
Era o cheiro. Eram os latidos "doídos"...
O tempo passou.
Danka teve seu primeiro cio conosco (ela já deveria ter uns 6 ou 7 anos quando chegou em nossa casa).
Pela aparência de suas mamas, com certeza já tinha gerado algumas ninhadas então decidimos cruzá-la.
Tinha comentado com a Cida, minha amiga e cabeleireira, que pretendia ficar com uma cadela da rua.
A descrevi e disse que era igual ao seu cachorro.
O Spike.Ele foi retirado da rua também.
Chegou com uns oito meses.
Agora estava gigante, boxer, tigrado, tinha uns 6 anos e...coitado... era virgem!
A cruzaSem saber como a "coisa" funcionava, lá fomos nós para a casa do Spike.
A Danka pingando e uma renca de cachorros atrás de nós pela rua.
Quando aconteceu o encontro, a cara de ambos mostrava satisfação, mas, o "principal" não acontecia.
Vim para casa e procurei informações sobre o assunto na internet.
Não era o dia certo para a cruza. Fui buscá-la e deixei o encontro marcado para a próxima semana.
Quando chegamos, na semana seguinte, mal deu tempo de combinarmos os detalhes da estadia e eles já estavam engatados! Mesmo assim, deixei uns três dias para termos certeza do serviço!
A relação deles foi tão intensa que o Spike ficou doente e precisou ser medicado.
Logo, logo, estávamos passeando pelas ruas exibindo o lindo barrigão!
O tempo de espera foi loooooongo!
Todos estávamos muito apreensivos com a chegada do parto.
No dia 12 de outubro de 2008, por volta das 4:00 da madrugada ouvimos os gritinhos dos filhotes que nasceram.
Tudo parecia correr tudo bem.
O relógio marcava 8:00 horas quando nasceu o último filhote, que era o de número 6.
Ela continuava com contrações e eu achava que sua barriga ainda não estava o suficiente vazia, mas, como estava com a aparencia boa e eu não tinha a menor experiência, fiquei achando que ela estava somente inchada.
Santa inocência!
No dia seguinte percebi que ela estava entrando em sofrimento e decidi levá-la ao veterinário.
Depois do diagnóstico e do susto causado pelo valor que me seria cobrado pelo serviço, ela foi levada para uma clínica, para uma cesária.
Dois filhotes encaixaram juntos para nascer e "entupiram" o canal. Dentro do útero tinha mais uns quatro.
Perdemos estes seis e ficamos com a mãe, agora castrada, e com os seis que ficaram em casa.
Com o sofrimento e a cirurgia, a Danka ficou muito fraca e quase perdeu o leite!
Nos primeiros dias ela conseguia amamentar, mas, foi perdendo o leite gradativamente. E era perceptível o quanto era doloroso.
Comprei uma mamadeira e comecei a ajudá-la, com leite de cabra.
Passados sete dias após a cirurgia, houve um sangramento.
Fiquei assustadíssima!!
Levei-a ao veterinário, mais uma vez, onde foi aplicada uma injeção anti-hemorrágica.
Neste meio tempo, trouxe-a para casa e, enquanto aguardávamos o horário para a ação do medicamento, fui lavando o quintal ensanguentado.
Quando deu o tempo fui vê-la.
Danka estava numa poça de sangue!!
Que cena horrível!!
Coloquei-a desesperadamente na mala do carro e saí...
Entreguei-a aos prantos para o veterinário e antes de sair, disse-lhe segurando a cabeça: _Eu te tirei da rua, para viver muitos anos ao meu lado, não me deixe agora!! Lute! Não me abandone!
Antes de entrar no carro, chorei como se estivesse me despedindo mesmo!3
Achava que ela não tinha chance.
Passou mil coisas pela cabeça.
Como iria fazer com os filhotinhos?
Onde iria enterrá-la?
Como seria minha vida sem ela?
Pensando e chorando.
Chorando e soluçando.
Pra falar a verdade não sei como cheguei em casa.
E tinha um monte de gente lá, esperando notícias.
Todo mundo nervoso.
Quando meu marido chegou e viu aquele monte de gente e notou a falta da Danka, já pensou no piór.
Era quase oito da noite quando o veterinário ligou dizendo que ela já tinha acordado da anestesia e estava bem!!
E não é que o bicho é lutador??
Sabe aquela alegria que contagia a todos?! Era um abraçando o outro! Era uma alegria só!
Levou uns dias até que ela se reestabelecesse, mas, enfim deu tudo certo!
Hoje estamos com a mãe (que é uma rocha) e os filhotinhos (que parecem pequenos bezerros) gordinhos.
Todos já tem donos.
São eles
As fêmeas: - Raiska e Pantera.
Os machos: - Bradock, Thor, Napoleão e King.
Estou muito feliz.
Com esta história toda, acabei perdendo meu emprego, que de uma certa maneira veio a calhar, pois pude cuidar da turminha e ainda pagar o veterinário.
Acabou dando tudo certo.
Digo mais: Não me arrependo de nenhum centavo gasto com eles!
Minha cadela está bem, os cachorrinhos também e, principalmente, deito minha cabeça no travesseiro e durmo em paz...!